Plínio Pacheco Oliveira é pernambucano, poeta, professor universitário e advogado. Doutorando em Direito pela Universidade de Coimbra, realizou parte de sua pesquisa doutoral na Universidade de Oxford e na Universidade de Bolonha. Mestre e bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (Universidade Federal de Pernambuco). Publicou pela editora Mondru o livro de poesia Imagens para Jogar em Sonhos (2023).
TRATADO ÍNFIMO DA SAUDADE
Fogo que só clareia o perdido
carícia na pele do passado
rio seco a murmurar que já foi água
lente de ampliar impermanências
ponteiro que mostra a hora desfeita
bainha que guarda a lâmina do que findou.
IEMANJÁ
I
Capítulo do vento
parágrafo do azul
luz banhada
que cai duma constelação
de estrelas do mar
O Atlântico pousa
em sua cabeça:
é a coroa que ondula
A lua pendurada à sua orelha
é o brinco que move as marés
é a noite que virou pedra
folheada a prata e sono.
II
Peixes giram
em torno da sua voz
e entram no seu silêncio
como se ele fosse um aquário
Quando ela vê
a onda quebrada na praia
recolhe os cacos
e guarda-os no bolso
para remontar a onda em algum outro mar.
TATUAGEM
Para ver o céu mergulhar
tatuei uma nuvem
no braço de mar.
VERMELHO
DE TEREZA COSTA RÊGO
Sílabas em combustão
levantam voo na minha língua
quando ela lambe o vermelho
Feito um suco fervente
caldo de pitanga
o poente escorre dos meus dedos
quando eles espremem o vermelho
Minhas mãos, que aprenderam
a engarrafar cores,
pegam o vermelho maduro
para enfiá-lo na boca
e rasgo o vermelho com os dentes –
o vermelho de Tereza.
ALTO-MAR DE NOVA JERUSALÉM
Esta terra resta
sob um mar desmolhado
liberto da liquidez
(mar desmontado
oceano apartado da água)
É terra-espelho:
diante dela
o mar se olha
e só vê ossos
a água se mira
e só vê músculos
(a terra sabe
que o osso fica
quando a carne vai)
Sobre este chão
sopram ventos submersos
e caminho dentro de ondas secas
que não têm ensino para molhar.
Fotografia: Vista do rio Ipiranga – Arthur Wischral (Acervo Instituto Moreira Salles).